Nada a se comparar com o DEM, herdeiro do PFL, que, por sua vez, era filho do PDS da ditadura, que antes foi Arena no sistema bipartidário ditatorial e, lá atrás, antes do golpe de 1964, o avozinho ou bisavô, era UDN – União Democrática Nacional – sob as regras da Constituição de 1964. A UDN foi criada para conspirar. Assim posto, num processo de regressão, o gene do PSD que surge pode estar lá, na velha, quase esquecida UDN, berço de ACM e de muitos outros políticos de importância na época, dentre eles o maior conspirador, o mais poderoso em essência, Carlos Lacerda, chamado “O Corvo”, que sonhou antecipar, derrubando Getúlio Vargas – (que ao morrer, com uma bala desferida no peito, abortou o sonho) – o golpe que viria acontecer em 1964, dez anos depois da morte de Vargas.
Está complicado, Otto Alencar? Claro, um pouco, reconheço. A história exige paciência para ser compreendida, mesmo assim muitas vezes não se consegue entendê-la bem. O PSD vem de lá, dos meados do século passado. Depois, tomou, de forma invisível, o lugar da Arena-PDS-PFL que, praticamente, se evaporou na grande diáspora que surpreendeu (mas nem tanto) com a morte de ACM somada à vitória de Jaques Wagner que detonou, pela fadiga, o grande ciclo carlista de poder.
Quem tiver memória razoável provavelmente lembra-se da fotografia estampada na mídia baiana e nacional, na noite da apuração que determinou a derrota de Paulo Souto. No caso, não foi a vitória de Wagner; foi a derrota mesmo. Numa cadeira, no Palácio de Ondina, ACM foi fotografado em profunda tristeza, pernas abertas a olhar, entre elas, o chão. Ali estava o chão e seu e seu significado: o fim. Havia acabado tudo. Ponto final numa longa carreira de mando na Bahia.
Pouco a pouco os carlistas, antes tão fiéis, na verdade fidelidade alimentada pelo medo, sem esperar o período de luto, foram desaparecendo, desaparecendo e...sumiram! Foram-se praticamente todos, senão todos. Ficou apenas parte da família, representada pelo deputado ACM Neto, porque até Paulo Magalhães, eleito sempre com os votos de Luís Eduardo Magalhães, pulou fora. Espalharam-se todos pelas demais legendas. Agora, o susto: o maior herdeiro deles, pelo processo de gravidade que o poder exerce para alimentar o adesismo, foi, queira ele ou não, o governador Jaques Wagner.
Para juntar a sua tropa, ACM levou 40 anos. Antes de começar, foi mimado pelo Juracisismo, pelos coronéis, pelas oligarquias baianas que ele herdou. Já Wagner, não. Encontrou o formigueiro, ou cupinzeiro, desfeito e espalhado, sem rumo. No início, ficaram assim envergonhados, mas, pouco a pouco, foram se chegando. Agora estão eles à sombra do poder, à sombra do governo, não à sombra de Jaques Wagner. Estão de passagem, depois mudam. Porque a política é assim mesmo: não tem caráter. Macunaímica e brasileirissimamente, é sem vergonha por essência. E daí? E o PSD de Otto com tudo isso? Tudo, meus caros leitores, tudo. O PSD é forte na Bahia porque atraiu as mariposas que estavam em busca da luz. Juntou os cacos em forma de políticos, que não primam por honrar princípios, ideologias, pensamentos, posturas, princípios, enfim. Assim será até as eleições de 2014.
O partido sai. Na largada, com 11 deputados estaduais, mas, quando chegar o momento de disputar o voto após uma campanha, estarão em outros ninhos porque difícil crer que o PSD fará uma bancada com dimensão igual ao número de abrigados sob o seu guarda-chuva de agora. Pronto, vou terminar. O PSD é um partido oco. Os demais também são. Mas é mulato na cor (como na música). Enfim, uma mistura étnica que começa na UDB do “Corvo” Carlos Lacerda. O PSD passa pela Arena, PDS, PFL, pula o DEM e chega no que imagina ser o novo. Não. Definitivamente não é. O seu berço é oligárquico.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (9).
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